Depoimentos


O sorriso sereno da professora Irinéia Aparecida dos Santos (à esquerda na foto), reflete a tranqüilidade de uma mulher que supera diariamente as consequências de um câncer de mama. Casada, mãe de três filhos e avó de um neto, Néia, como é conhecida pelas amigas, ignorava a possibilidade de um dia ser diagnosticada com esta doença. Passava longe de consultórios médicos e fingia não saber da importância dos exames preventivos. A luta começou em 2003, quando começou a sentir os primeiros sintomas.

Néia começou a perceber que sua mama direita estava diferente, mais dolorida e um pouco inchada. No início, pensou que poderia ser o modelo de sutiã que a incomodava, mas os dias passavam e a dor permanecia. Foi quando a professora resolveu procurar a ajuda de um médico. Depois de alguns exames, como a mamografia, o médico percebeu a presença de um nódulo benigno no seio direito. A professora não deu importância ao diagnóstico, optou por continuar sua rotina e faltou à cirurgia que o médico havia marcado. Suas colegas de trabalho ficaram preocupadas e sua família não achou que era algo sério. Néia começava naquele momento a assistir o crescimento do próprio câncer.

O tempo passou, e em 2006, a professora foi ao ginecologista fazer um exame preventivo em virtude da idade. Quando a médica viu seus seios ficou assustada e a levou diretamente a um especialista. Não havia mais como evitar o crescimento do nódulo que já era maligno. O tratamento estava limitado e após três meses, o médico optou pela mastectomia, a remoção completa da mama.

Não tento outra opção, foi feita então a retirada de sua mama. “Não me importo em não ter uma das mamas, pois ando com minhas pernas”, comentou em meio a um sorriso para disfarçar a lágrima. Após a cirurgia, a professora ainda precisou fazer sessões de quimioterapia e radioterapia. Perdeu todo cabelo, mas isso não a afetou, comenta, dizendo que até que ficou com um semblante mais bonito.

Apesar de a Ciência afirmar o contrário, aos 49 anos, Néia acredita que uma das causas de o câncer ter se manifestado foram situações de sua vida que nunca conseguiu solucionar, as quais sempre lhe trouxeram muita angustia desde a infância. “O câncer é proveniente de tudo que carrego comigo e não consegui esclarecer”. A doença fez com que Néia começasse a perceber a importância de como vivia seus dias, sempre ocupada e vivendo os problemas de toda sua família. “A doença foi um ensinamento, agora não penso mais no amanhã, me preparo para o daqui a pouco”, finalizou a professora.




Diferente de sua amiga Néia, a dona de casa Cecília Maria Luz Emílio, 54, após o diagnóstico, demorou três meses para fazer a mastectomia total da mama esquerda. Casada e mãe de dois filhos, Cecília era dona de uma lanchonete 24 horas e sobrava pouco de seu tempo para descansar. “A vida passou sem que eu percebesse”. A dona de casa já sabia de casos antigos de câncer em sua família, por isso fazia regularmente exames de prevenção. Em 2002, o câncer de mama surgiu três meses após ter feito uma mamografia.

Cecília já sofria com displasia mamária, uma alteração comum da mama feminina. Como as dores no seio eram constantes, ela notou o nódulo em seu seio enquanto trocava de roupa. Quando Cecília foi ao médico o tumor era do tamanho de um grão de ervilha, até o momento da cirurgia ele cresceu até atingir 75% de toda a mama. A vida continuou normalmente até a data da mastectomia.

A dona de casa precisou ser forte para passar tranqüilidade à família, que sofreu bastante com a notícia. O momento mais difícil do tratamento para Cecília foi a depressão após a cirurgia. Ela só conseguiu recuperar sua auto estima quando conheceu outras mulheres que viviam a mesma realidade. “Tenho muitas coisas para contar, aprendi a ajoelhar diante do problema e dizer que tenho um grande Deus”.

Cecília começou a perder o cabelo durante as sessões de quimioterapia e radioterapia. Para demonstrar seu carinho pela esposa, o marido da dona de casa foi junto ao cabeleireiro e os dois rasparam juntos os cabelos. “Todos ficaram admirados com a forma com que ele tentou me ajudar”, falou emocionada.

A família de Cecília, assim como ela, aprendeu várias lições com o câncer. Infelizmente, a doença voltou no final de 2006, agora localizado acima do seio, entre a pele e o osso. A alegria de viver presente nos olhos de Cecília é misto de luta e paciência. “Antes, eu me atropelava, não olhava o sol, a lua. Hoje percebo como tudo é maravilhoso”.


Participe conosco mandando seu depoimento para o e-mail contato@amorproprio.com.br